governo quer parcelar dívidas para pagar Auxílio Brasil

PEC dos Precatórios

O governo quer achar espaço no Orçamento para aumentar o valor do Bolsa Família — rebatizado como Auxílio Brasil — sem desrespeitar o teto de gastos previsto na Constituição

A solução proposta envolve mexer com o pagamento dos precatórios. Esse é o nome dado às dívidas geradas por derrotas de União, estados e municípios em decisões da Justiça 

O pagamento dos precatórios é obrigatório e incluído no Orçamento anual. Em 2022, esse gasto dará um salto: de R$ 56 bilhões para R$ 89 bilhões. O governo alega que foi surpreendido por esse aumento

Por isso, o Executivo propôs uma emenda à Constituição para parcelar em até dez anos o pagamento de precatórios. O espaço orçamentário gerado seria usado para viabilizar o Auxílio Brasil 

A PEC 23/2021, apelidada de PEC dos Precatórios, está na Câmara dos Deputados. Precisa ser aprovada por três quintos dos votos, em dois turnos, para avançar ao Senado 

PEC 23/2021

Para não prejudicar os pequenos credores, a PEC parcela apenas os precatórios de maior valor: acima de R$ 66 milhões. O governo daria uma entrada de 15% e pagaria o restante em nove parcelas anuais

Os opositores da proposta alegam que é uma forma de "contabilidade criativa" em ano eleitoral, que aumenta a insegurança dos investidores em relação às contas públicas do Brasil 

Em sessão de debates temáticos no Senado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a PEC, ao contrário, garante a responsabilidade fiscal e "o compromisso com as futuras gerações"

A Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, apontou possíveis efeitos negativos da PEC dos Precatórios sobre a taxa de juros e a dívida pública, o que pode agravar a crise econômica 

A IFI estima que o espaço fiscal criado será menor que o previsto pelo Executivo — cerca de R$ 17,4 bilhões, contra R$ 33,5 bilhões anunciados pelo governo

Em audiência da Comissão Mista de Orçamento, Bruno Funchal, secretário do Tesouro, disse que conciliar o crescimento dos precatórios com o teto de gastos é melhor para a credibilidade da economia

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, vem realizando uma série de reuniões com parlamentares e representantes do governo e disse acreditar numa solução negociada 

texto
André Fontenelle

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